segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pela primeira vez, os brasileiros conquistavam a América.

Foi no campo das Laranjeiras, que a Seleção Brasileira realizou sua primeira partida. Em 27 de julho de 1914, um amistoso contra o Exeter City Football Club, time inglês, e os brasileiros venceram por 2x0 com gols de Oswaldo Gomes e Osman. Em 1919, o estádio das Laranjeiras ficaria pronto para a realização do terceiro Campeonato Sulamericano de Seleções, o primeiro em solo brasileiro.

Os santistas Adolpho Millon e Arnaldo Silveira vão para sua segunda Copa América, após terem disputado a anterior em 1917 no Uruguai com a seleção da casa conquistando o bicampeonato. Desta vez também contando com Haroldo Domingues, meio campista do Santos, e que também foi o técnico da Seleção (na fase do amadorismo, era comum o capitão de uma equipe atuar também como técnico, embora naquela ocasião o capitão teria sido Arnaldo Silveira).


A edição de 1918 da Copa América foi adiada para 1919 em virtude de uma pandemia, a gripe espanhola, vitimando mais pessoas que a Primeira Grande Guerra ( números estimados entre 30 a 40 milhões de pessoas), e também o paulista Rodrigues Alves, recém eleito para seu segundo mandato na Presidência da República, que não chegou a assumir.


Nesta terceira edição, tivemos a participação de 4 seleções: Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. O regulamento era bem simples, com todas a seleções se enfrentando em um jogo único; a que pontuasse mais, seria a campeã.


A linha ofensiva da Seleção era formada por paulistas ou que jogavam nos times de São Paulo: A começar pelo ponteiro direito do Santos Futebol Clube, Adolpho Millon; Neco, centroavante do Corinthians, jogador versátil que também atuava no meio campo; Arthur Friedenreich, do Paulistano, chamado pelos uruguaios por "El Tigre", o maior goleador da sua geração, com suas fintas de corpo e dribles curtos; Heitor, do Palestra Itália, grande finalizador; e o ponta-esquerda Arnaldo também do Santos, jogador rápido e habilidoso.


No primeiro jogo, no dia 11 de maio, um passeio brasileiro sobre os chilenos: 6x0, com três gols de Friedenreich, dois de Neco, e um do santista Haroldo. Contra os argentinos outra grande vitória: 3x1 com gols de Heitor, Amílcar e Millon.


Já contra os campeões, um jogo bem mais duro: Os uruguaios abriram o placar aos 13' com Gradín e ampliaram aos 19' com Scarone. Neco descontaria aos 29' e a primeira etapa encerraria com 2x1 para a Celeste. Aos 23' da segunda etapa, Neco faria mais um e o jogo acabaria em 2x2. Como os uruguaios estavam empatados na pontuação com os brasileiros, pois também haviam derrotado seus adversários, as duas seleções tiveram que fazer um jogo de desempate.


Este jogo que acabou sendo a final, foi um dos mais longos da história, com 150 minutos. Jogo duro como sempre fora contra os uruguaios, bolas na trave de ambos os lados, e o gol insistia em não sair. Fim do tempo normal, 0x0 e a prorrogação. Fim da prorrogação: 0x0. E como não havia penalidades, mais uma prorrogação. E aos 13 minutos do primeiro tempo desta segunda prorrogação, finalmente saiu o gol. Bola cruzada para a área uruguaia, Neco cabeceia e o goleiro Sporiti rebate de punhos fechados; Friedenreich, que vinha na corrida, chuta forte, à meia altura, no meio do gol. Finalmente o estádio pôde soltar o grito de gol, cartolas e chápeus, aos milhares, voaram das arquibancadas, e o estádio com mais de 20.000 pessoas gritava o nome de Friedenreich. Pessoas aglomeradas no morro das Laranjeiras e na Avenida Rio Branco, em frente ao Jornal do Brasil, também festejavam. Pela primeira vez no Brasil, uma festa popular ganhava as ruas num evento futebolístico. Carros em corso ganhavam o centro do Rio, na Avenida Rio Branco. Pela primeira vez, os brasileiros conquistavam a América.



Agora a escalação dos campeões e seus respectivos clubes:



Píndaro (Flamengo), Sérgio (Paulistano), Marcos (Fluminense), Fortes (Fluminense), Bianco (Palestra Itália) e Amílcar (Corinthians); Millon (Santos), Neco (Corinthians) Friedenreich (Paulistano), Heitor(Palestra Itália) e Arnaldo (Santos)



Ficha Técnica da partida:

Brasil 1 x 0 Uruguai (Sulamericano de Seleções)

Local: Laranjeiras, Rio de Janeiro.

Data: 29/05/1919

Público Estimado: 20.000

Árbitro: Juan Pedro Barbera (ARG)

Gol: Friedenreich 122'

Brasil: Marcos Mendonça, Píndaro, Bianco, Sérgio Pires, Amílcar e Fortes; Millon, Neco, Friedenreich, Heitor e Arnaldo. Técnico: Haroldo Domingues.

Uruguai: Cayetano Sporiti, Manuel Varela, Alfredo Foglino, Rogelio Naguil, Alfredo Zibechi e José Vanzzino; José Perez, Héctor Scarone, Angel Romano, Isabelino Gradín e Rodolfo Marán. Técnico: Severino Castillo.



Notas:

O público diverge bastante nas pesquisas, variando de 20.000 a 35.000. Prefiro ficar com a primeira opção, pois não consigo imaginar o estádio das Larangeiras com 35.000 pessoas.

O zagueiro Píndaro de Carvalho seria o primeiro técnico da Seleção Brasileira em Copas do Mundo, em 1930.

Este último jogo contra os uruguaios rendeu uma composição de Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, intitulado "1x0", que é o primeiro registro musical sobre um jogo de futebol, de fácil procura no youtube.


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